Era um caderno de desenhos em espiral. Eu o tinha como um diário. Como um capricho.
Havia me diplomado em datilografia e resolvi passar todos meus rascunhos de poesias para esse caderno. Com minha paciência de Jó, retirei a mola do caderno. Depois desenhei a lápis tudo o que eu imaginava ser o tema de cada poesia. Então ficava um esboço desenhado e datilografado em vermelho a poesia. Assim dava um destaque nas cores.
Foram cinquenta folhas. Na capa detrás, colei uma cartolina branca. Na da frente a foto de uma mulher que recortei de um calendário. A jovem tinha os olhos verdes e os cabelos loiros cacheados.
Com a mesma paciência e obedecendo a posição dos furos recoloquei a mola em seu lugar.
Estava pronto meu primeiro livro de poesias. Todo trabalhado com carinho e amor.
Por estar muito apaixonado por você deixei contigo meu filho! Fruto das minhas fantasias poéticas.
Você o adorou e ficou com ele para lê-lo, quando sentisse saudades de mim.
Um dia parti da sua vida. Uma noite em que você viajando com sua mãe, entrei pelo corredor do bucólico chalé de madeira que você morava. Ouvi as paredes de falando de mim. Dentro delas seu pai e seu irmão ciumentos diziam blasfêmias, como se eu fosse aproveitador, um vagabundo um crápula. Mal sabiam que meu amor por você era maior que minha adoração por Deus.
O pai concordava com o filho. Aquela noite me senti um lixo. Sai pelo corredor chorando para nunca mais voltar. Nem mesmo para pegar meus discos que deixei na tua estante da sala. Sumi da tua vida. Mesmo assim acompanhei seus passos. Em algumas ocasiões muito perto de você. Inclusive no dia do teu casamento. Quando todos entraram na igreja eu assisti na porta Deus te entregando a outro homem, fazendo-o prometer que te amaria até o final dos tempos.
Antes disso, um dia o destino me fez encontrá-la novamente. Porém eu já tinha um rebento para cuidar. Além de perceber que você enfrentaria muita discórdia na sua família para me ter ao seu lado. Novamente te deixei. Troquei meu amor por você pelo gostar de outra. A voz do meu rebento me chamava de Papá. Isso pesou na balança. E tive que aprender a viver minha vida longe de você.
Nunca mais esqueci a voz do teu violão. Quando dedilhava canções de amor. Às vezes ouço as tuas músicas e sinto que nas tuas composições! Sempre tem um pouco de mim e do meu caderno de poesias.
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