Meu avô era o risonho Manoel do bairro Aparecida, lá da cidade de Santos. Era homem muito dado e conhecido na vizinhança, pelo seu jeito se entender a coisas. Ora pois, pois. Gentil, estava sempre a abanar as mãos para outras pessoas. Muitas vezes abanava as mãos para fazer vento no rosto, por causa do calor.
Ele tinha a mania de usar e colecionar chapéus. Adorava-os, e os tinha num monte de cores. Mandava colocar na parte interna de todos os seus chapéus costurada no bojo, uma etiqueta com seu nome e endereço. Dizia que se esquecesse – o que era muito difícil, o chapéu alguém saberia quem era o esquecido.
Em certa ocasião me convidou a dar um passeio. Eu tinha uns oito anos. Ele me deu a mão e fomos nós, andamos por várias ruas parando em muitos lugares. Ele cumprimentava a todos com um sorriso largo e bem dado.
Paramos no Manoel da quitanda, no empório do seu Maneco. Fomos no Manequinho que vendia tamancos de madeira. No final entramos na chapelaria da dona Maria, que era casada com o artesão Manoelito. Era tanto Manoel e todos conhecidos que eu achava que tinham vindo da Manoelândia.
--- Olá Manoelito, como estas!
--- Ó seu Manoel tudo bem! Cá está o seu chapéu prontinho! Etiquetado e bordado com seu nome e endereço no forro de cetim branco.
Meu avô olhou o chapéu com olhos brilhantes. E um sorriso de felicidade. A peça era preta e tinha uma fita de seda preta e brilhante acima da aba. Colocou na cabeça e foi para a frente do espelho. Estava radiante e elegante. O chapéu lhe deu um ar de homem sério e de negócios.
Na caixa colocou o chapéu que estava na sua cabeça e saímos da loja com a cabeça do meu avô, toda prosa, exibindo o novo chapéu. Ora pois, pois. Ele também sorria. E parecia dançar andando ladeira abaixo. Todo exibido.
De repente uma lufada de vento forte, arrancou o dito cujo chapéu da cabeça do meu avô. Imediatamente corri para capturar o fujão. Mas o vento mais forte e esperto levou-o para mais longe e mais longe até que virou um ponto preto voando ladeira abaixo.
Voltei meio triste para perto do meu avô. Olhei para ele com a desculpa de não ter conseguido segurar o chapéu voador. Ele como bom entendedor olhou para os meus olhos e disse.
---Ficas tranquilo ó Carlitos! Deixe que ele se vá!
--- Mas vô! O chapéu era novinho.
--- Deixa estar menino! Ficas tranquilo!
Pegou o chapéu velho que estava na caixa e o colocou na cabeça. Assim fomos de volta para casa. Eu não entendia porque um homem tão apaixonado por chapéus, estava conformado e perder um novinho para o vento. Quando chegamos em casa quem ficou estupefato fui eu. Imaginem qual não foi a minha surpresa de ver no gramado do jardim descansando o chapéu novo do meu avô. Aquele mesmo que o vento arrebatara da sua cabeça.
--- Olha vô! O seu chapéu! Afirmei eu com um sorriso de felicidade.
Ele com toda a paciência e sorrindo, pegou o chapéu e limpou-o com o punho da camisa e colocou na cabeça afirmando.
--- É por isso Carlitos que mando colocar etiquetas com meu nome e endereço nos meus chapéus. Até o vento sabe aonde moro.